sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pergunta ao Tempo

Esta é uma bela noite para gravar ali na casa da Gabriel dos Santos. Paulistanamente, chove depois de mais uma sessão de cinema. As flores amarelas do ipê estão mais flores. Molhadas na calçada. Estou me afeiçoando a esse cenário, então passo sobre elas com cuidado. E o carinho de uma velha e querida conhecida.
Penso, então, “o que será que vem depois da chuva?” Penso, ainda mais, até quando essa pergunta vai fazer casa na minha mente-coração. Coraçãomente (?)



Como esquecer? ? ?



(hoje: orgulho maior de nosso cinema)


domingo, 10 de outubro de 2010

Inspiração

Eu queria parar de escrever sob São Paulo. No entanto, viver aqui torna isso remotamente impossível. Melhor: senti-la da forma que faço torna esse desejo ridiculamente impossível.
(Há uma casa ali na Gabriel dos Santos que eu gostaria muito de filmar (se parece muito com a casa de “Gritos e Sussurros”). Ela tem um enorme ipê amarelo na frente, que não se cansa de chorar desde que Verinha chegou. Acho engraçado, pois sempre pensei que quando Verinha chegasse é que ele cessaria de chorar. Enfim... árvores são extremamente sentimentais. Só não arrisco dizer que são humanas porque elas são felizes. E fortes. Admiro infinitamente a imponência de muitas delas, da mesma forma que lanço olhares carinhosamente apaixonados para umas miudinhas, mas todas cheias de flores. Gosto de falar em pensamento com elas. Em voz alta prefiro conversar com a Lua).
Pois, que é isso: São Paulo me penetra inteira. Às vezes me faz gozar. E não necessariamente num apartamentoperdidonacidade. Mas ultimamente ela não me tem saciado. Ela tá me batendo em solitude (tal qual aquela música da Orquestra Imperial: “prefiro solitude à solidão”, sabe qual é?).
(Os últimos filmes brasileiros a que assisti tem-me palpitado o coração de orgulho do nosso cinema.
 É curioso e interessante como trespassam por meu caminho gentes que se dizem não pertencer a lugar nenhum. Gentes do mundo. – não necessariamente corações vagabundos. Aliás, algo a ser pensado: aqueles que querem guardar o mundo, são guardados? – E eu, que não sou genuinamente daqui, me sinto cada vez mais e mais aqui completa. É certo que se trata de uma completude despedaçada. E gosto assim: ESTILHAÇO.
Então, quando assisto a um filme rodado aqui, sinto parte. Sinto lá dentro como pertenço, como me faço aqui. Como sou mais uma. Ou talvez nem isso.
Um leão (e mais um tigre e uma onça) por dia).

Tenho rompantes de amor terno por minha mãe.



    

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CINEMA

São Paulo dá um filme por dia. A infinitude de seus roteiros diários vai de Buñuel a Almodóvar, passando por Fellini, Bergman, Won Kar Wai e Glauber.
Nada de deus nem do diabo. É o supra humano na terra da...na terra.
Hoje eu vi a lua entre o farol e o viaduto.
Gostei então ainda mais do vermelho. E do verde também. Fiquei ali, parada à beira asfalto olhando pro céu.
 
(Tanta, tanta gente. Olho pro mar e só consigo matutar: em quem eles vão votar?)
 
 
 
Minha mente psicodelia. Meu coração SAUDADE. Construo mil personagens. O argumento é só começo e meio.
 
 
(tem fim?)
 



 
 
A propósito: as praias desertas continuam esperando por nós?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

LEITO (ou divagações sobre um colchão visto num cesto de lixo).

  Ontem, muito perto daqui, vi um colchão dentro de um grande cesto de lixo. Era um colchão de solteiro, cor de creme com rosas cor-de-rosa mesmo e alguns filetes azuis. Um colchão de casal fosse e então eu poderia imaginar milhões de histórias de amor desfeitas, que agora precisam ver indo embora para todo o sempre o visgo reminiscente das horas mais felizes da vida em comum. Mas não, era um colchão solitário.
  Solitário assim, no sentido de, teoricamente, ter sido feito para o um. Porque esse tipo de leito é o melhor de todos para se fazer do dois o um. Certo é que muito espaço se faz mais confortável para os desnorteios do fervor urgente, mas o mínimo dele é mais do que suficiente – e gostoso. Se não há para onde rolar, e a possibilidade de cair é de 100%, o jeito então é deslizar-se por cima, por baixo, de lado, um para cima e outro para baixo e começariatudooutravez, seprecisofosse, meuamor. Assim a urgência se faz mais delirante e o desejo mais infinito. Escorrega-se com mais facilidade porque o atrito é molhado. Prende-se com mais facilidade porque o molhado gruda.
  Talvez então para isso, para desgrudar da alma a lembrança, o colchão com rosas cor-de-rosa mesmo e alguns filetes azuis foi jogado ao lixo. Ou, então, era de alguma criança mijona.


Ou estava infestado de pulgas.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

DEVOÇÃO

Meu altar é feito daquilo que sinto: conchas do mar nordestino, Nossa Senhora Aparecida, fitas do Senhor do Bonfim e meus discos de Maria Bethânia.



Iemanjá, Iansã, Xangô e o vento minuano. Uma foto de Elis.


Avenida Paulista, Ponte do Guaíba e a prosa de Graciliano. Ser-tão Guimarães e Ana Terra. Incenso de sete pimentas africanas.


Banho de alfazema, a bandeira do Rio Grande. O pampa na garupa em qualquer lugar que eu ande. Leminski.


A fé que me acompanha sem eu saber. Um verso de Torquato: um dia desses eu me caso com você.


Feminino.



Mulher.


A Lua.






VERMELHO.






Samba de roda. Uma roda de chimarrão.







Meu coração.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O último marujo português


        Que as águas da eternidade, por onde agora navegas com tua jangada de pedra, lhe sejam serenas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

AMOR,

sabe, nesses dias frios de outono, o céu de São Paulo tem se feito quente. É. Já são algumas noites seguidas que saio à sacada e dou de frente com a Lua escancarada pra mim. Converso com ela. Tem vezes que ajoelho, até. Sim, tal qual uma adoração mesmo. Não, mas não tenha ciúmes, ela é tão mais brilhante e mais distante! Não a agarro com a mão, como faço contigo e como disse o Waly pra Bethânia em Mel, lembra? Não. A Lua é mais. Ela é mulher, assim, que nem a gente. Olho pra ela, assim, tão meiacheiadeLua e fico pensando em como é bom poder estar aqui embaixo, só pra poder olhar pra cima. Doidice, não? Eu não acho. Acho excitante. Fico pensando em deitar contigo ali no asfalto do Elevado e ficar olhando pra Lua. Queria te versar assim em Bandeira e Caetano. Queria que tu lesse pra mim ali. Me lesse. Aí, eu queria te cantar também. Não... o chão é macio. Acho o Elevado de um lirismo incrível! Dura poesia concreta, sabe? Quase posso sentir a tua língua quente no meu ouvido falando Lemiski, Lenine e Cazuza. A sorte do nosso amor com sabor de fruta mordida.

***

       Sacanagem danada essa de o céu se fazer assim justo agora. Me sinto tão feliz quanto...quanto nada. Me sentir feliz pelo espetáculo que o céu da Paulicéia tem feito nestas semanas é o que basta. Sempre o quis assim: em noite quente e brilhante. Lembro do Sertão e do Pampa, roseana e ericamente enluarados. Então, o peito aperta. Só faço saudade. A Lua me enche. Suspiro, te canto, mas não te conheço.

terça-feira, 8 de junho de 2010

ai, ai, tão grande.

Gosto da saudade e do que ela faz comigo. Gosto de que ela me doa. Gosto de como ela me lateja e me apedreja. Saudade é dor pungente, sim, mas não me mata. Ela me vive. Me mora.

Quando não sinto, sinto saudade da saudade.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Coração de carnaval

carne igual?


Agora, de acordo: sim, gosto de sofrer. Rasgar meu coração em um milhão, quatrocentos e trinta e dois mil pedaços de poesia latejante. O impossível instante da brevidade me atrai como um animal faminto e alucinado em busca da presa. Gosto de saber que nunca vai ser, assim degusto com mais gosto. Só assim posso sentir com mais vigor meu prazer de ser fêmea. Me apetece sobreviver a mais uma desilusão e viver com mais uma saudade.



(Vida aí, minha vida...)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Drummond no meio do caminho

no asfalto estava escrita uma cidade


sexta-feira, 14 de maio de 2010

Bandeira se esqueceu da nota de rodapé

para explicar que


quero o lirismo difícil e pungente dos bêbados


foi em memória


de Quincas Berro d´Água.



(cena da belíssima adaptação de Sergio Machado para a obra do Amado Jorge)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O mate da saudade

        Agora, só posso sorvar o mate da saudade. Antes, não precisava de mais nada além de ficar ali, ao lado dela, sentindo aquele doce amargo em quentes e lentos goles. A pequena cuia gostava de se revezar entre nós.
       Gostava muito de abraçá-la, beijá-la, sentir aquele cheiro de minha velhinha querida. Acho que eu era a única neta para quem ela se permitia carinhos assim. Também eu, assim: somente para minha avó meus carinhos físicos mais guardados se permitiam sair. Porque dela herdei esta casca protetora. Este coração de inverno quente. Este sertão-gaúcha que, quando menos espero, salta pelos meus poros. E pelos meus olhos.
       Nunca mais poderei comer a melhor ambrosia do mundo, nem fazer um interurbano para Guaíba no dia 15 de dezembro.
      Eu queria ter talento para, tal Cazuza, te escrever uma linda canção intitulada poema. Porém, tenho sofrido com meus anseios que, de tão grandes, não se conseguem traduzir em palavras. Assim, para quem se chamou Maria e resolveu ir-se em 8 de março, só posso dedicar a mais bela, triste e completa palavra do meu vocabulário: saudade.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Partidos porque eternos

Só se deixam partir os abraços que já foram eternos. Instantaneamente eternos. O abraço das almas, que se utilizam livremente do corpo físico para se envolverem. São aqueles abraços que, de tão eternos, sabem que estão condenados à ruptura. Por isso, são mais bonitos. Mais doídos. Mais gostosos. Saudosos. Desejados. E, por isso mesmo, partidos. Porque eternos.




(Depois de Almodóvar, Penélope e o estranho amor de Caetano – quem precisa de pastorterreirobanhodeáguaseteervas pra sessão do descarrego?).