terça-feira, 20 de outubro de 2009

O ressecamento da Coisa (aquela coisa do último texto escrito) ou - O prazo de validade da contemporaneidade

Modernidadequerimacomintensidadequerimacombrevidadequerimacomvalidade.

PRAZO de validade. Sim, sim, meu amor, tal qual naquele filme do chinês, quando o carinha apaixonado vê uma lata de um produto perecível na prateleira do supermercado e pensa que tudo deve ter mesmo um prazo de validade. Perecível. Brevidade. Validade. Perecível...Expresso. Amores expressos, esse é o nome do filme. É esse! É esse! E ele, o rapaz bestialmente apaixonado, estava coberto de razão. Razão. Tinha ele razão. Porque tá assim mesmo: tudo já embalado e com prazo pra terminar. Antes de começar. Antes. Antes, e já foi. E nem vi. Já foi. Nem deixou eu dizer. E foi. O quê? O que eu ia dizer? Não importa. Já foi. Não, para. Não quero mais saber o que é que ia ser se fosse. Porque não foi.

Tudo, tudo, tudo assim. E a gente ainda acredita que pode. Que dá. Que podia dar. Mas nem de dar dá tempo às vezes. Que dirá de comer. Porque comer demora mais, você nunca sabe qual o tempo que o outro (ou a outra?) vai levar pra gozar. E aí, então, demora mais. E aí...


 
 
 
 


Acabou o prazo de validade do texto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A coisa

Estivesse eu no meu tempo, lá pelos anos 60 ou 70, e estaria debruçada sobre minha máquina de escrever. Não importa, estou fora dele e em frente ao computador (computa a dor?), mas estou. Feliz, restou um cigarro – daquele tempo.
Não importa, o quero dizer agora, exatamente agora, é que acho que é como escrever; mas pra quem escreve mesmo. Porque pra quem escreve mesmo, que escrever é essa hemorragia docoraçãodasvíscerasdaalma, vem assim: de repente. Acho até que é mal educado, talvez grosseiro. Mas eu gosto – todo mundo gosta. E nesse caso eu até sou como todo mundo. Ou talvez não, porque todo o mundo não é como todo mundo. Mas é uma grosseria gostosa, é um desaviso que enche o peito e faz ele saltar pra fora, porque não dá pra esconder. Todo o tempo foi assim. Só que tem gente que escreve diferente. Eu não sei se o meu jeito é diferente, mas é o meu jeito – e como é só meu então pode ser que seja diferente mesmo.
Mas assim é, é que já disseram por aí que todas as cartas de amor são ridículas, e que não seriam de amor se ridículas não fossem. E então eu não sei se isto que estou escrevendo é ridículo, porque não é uma carta. E não é. Eu não sei o que é, eu quase nunca sei, mas como já disseram por aí também, eu quero me aproximar do “é” da coisa, e por isto é que eu estou escrevendo agora: é porque isto é o “é” da coisa. E eu nem sei que coisa é esta, mas ela é. E eu gosto de que ela seja. E só seja. Assim, ser.
E é super paradoxal, porque a gente já é avisado de que é desavisado, e então eu acho que a gente já devia estar assim: preparado. Mas aí não teria graça, porque a graça do é dessa coisa é ser desavisada. E eu estou escrevendo agora pensando em Caio F. e em Ana C., porque eu acho que em 1970 e em 1980 essa coisa já era essa coisa assim do jeito que eles diziam que era: louca e incompreensível. Não, eles não falaram isso assim, com essas palavras, mas a Literatura (com L maiúsculo, porque a Literatura é um ser vivo) deles fala dessa coisa louca e incompreensível de um modo extremamente compreensível, e é por isso que eu acho que a gente ainda vive no tempo deles, que é o mesmo tempo de sempre, porque a alma coração vísceras sempre sentiram a mesma coisa, só que em 1970 e em 1980 eu acho que ela era melhor traduzida. Porque essa coisa é assim que nem a Literatura: é mais linda e mais real quando está perto da gente, quando está na gente. Lá dentro.
Eu sempre ando com guarda-chuva na bolsa, porque São Paulo é tão multiplamente díspare que até o tempo é assim. E, de repente, chove.
Mas hoje, que feliz ironia: deixei o guarda-chuva em casa.















A propósito: que coisa é essa mesmo?