sexta-feira, 2 de abril de 2010

O mate da saudade

        Agora, só posso sorvar o mate da saudade. Antes, não precisava de mais nada além de ficar ali, ao lado dela, sentindo aquele doce amargo em quentes e lentos goles. A pequena cuia gostava de se revezar entre nós.
       Gostava muito de abraçá-la, beijá-la, sentir aquele cheiro de minha velhinha querida. Acho que eu era a única neta para quem ela se permitia carinhos assim. Também eu, assim: somente para minha avó meus carinhos físicos mais guardados se permitiam sair. Porque dela herdei esta casca protetora. Este coração de inverno quente. Este sertão-gaúcha que, quando menos espero, salta pelos meus poros. E pelos meus olhos.
       Nunca mais poderei comer a melhor ambrosia do mundo, nem fazer um interurbano para Guaíba no dia 15 de dezembro.
      Eu queria ter talento para, tal Cazuza, te escrever uma linda canção intitulada poema. Porém, tenho sofrido com meus anseios que, de tão grandes, não se conseguem traduzir em palavras. Assim, para quem se chamou Maria e resolveu ir-se em 8 de março, só posso dedicar a mais bela, triste e completa palavra do meu vocabulário: saudade.