quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Agora, o verde maduro

         E se, junto à minha garrafinha com o mágico aroma vermelho de morangos, levasse um saquinho de conteúdo deliciosamente táctil: o interior de um figo maduro. E então, quando de uma noite enluaradamente quente, poderia eu tocá-lo com gosto, de fora pra dentro, suavemente veloz ou ferozmente suave. Até o fundo - figo.
        Do toque sentiria o cheiro e o gosto. Pois que não posso ver, só sentir. Ali, guardado, preservado - não vale ver. Sentir vale mais. Fecho os olhos e sinto. Só. Aí guardo mais. Sensação-memória. Aqui, serve mais do que a memória da retina.


sábado, 12 de dezembro de 2009

Alma em transe

Explode, explode, explode coração! Surrealmente, ela existe! Estrela que me guia pelo canto. Mágico. Sublime. Verdadeiro. Brasileiro. Expressão máxima de todos os sentidos da alma. É como a água: mata a minha sede. Toda. Me respira. Me alegra. Me agita. Excita. Tal como quando me chegaste, invadindo-me inteira, arrasando minhas barreiras e tocando onde ninguém mais, talvez nem eu mesma, possa chegar. Me revela. E descobre.


Verde, amarela, azul e branca. Vermelha. Bahia. Calor. Fervor. Amor...

A memória da retina e do coração me valem mais na alma. Assim, astro que vi de perto, pela linha tênue que separa a vida da vida. Permanecerá. E só engrandecerá.

Amanhã, seja você quem for. Seja o que você quiser. Hoje, minha. Hoje, tua.





Vivas ao dom de Maria Brasileira Bethania.





(após o show da turnê "Amor, festa, devoção" - Teatro Abril - São Paulo).

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O ressecamento da Coisa (aquela coisa do último texto escrito) ou - O prazo de validade da contemporaneidade

Modernidadequerimacomintensidadequerimacombrevidadequerimacomvalidade.

PRAZO de validade. Sim, sim, meu amor, tal qual naquele filme do chinês, quando o carinha apaixonado vê uma lata de um produto perecível na prateleira do supermercado e pensa que tudo deve ter mesmo um prazo de validade. Perecível. Brevidade. Validade. Perecível...Expresso. Amores expressos, esse é o nome do filme. É esse! É esse! E ele, o rapaz bestialmente apaixonado, estava coberto de razão. Razão. Tinha ele razão. Porque tá assim mesmo: tudo já embalado e com prazo pra terminar. Antes de começar. Antes. Antes, e já foi. E nem vi. Já foi. Nem deixou eu dizer. E foi. O quê? O que eu ia dizer? Não importa. Já foi. Não, para. Não quero mais saber o que é que ia ser se fosse. Porque não foi.

Tudo, tudo, tudo assim. E a gente ainda acredita que pode. Que dá. Que podia dar. Mas nem de dar dá tempo às vezes. Que dirá de comer. Porque comer demora mais, você nunca sabe qual o tempo que o outro (ou a outra?) vai levar pra gozar. E aí, então, demora mais. E aí...


 
 
 
 


Acabou o prazo de validade do texto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A coisa

Estivesse eu no meu tempo, lá pelos anos 60 ou 70, e estaria debruçada sobre minha máquina de escrever. Não importa, estou fora dele e em frente ao computador (computa a dor?), mas estou. Feliz, restou um cigarro – daquele tempo.
Não importa, o quero dizer agora, exatamente agora, é que acho que é como escrever; mas pra quem escreve mesmo. Porque pra quem escreve mesmo, que escrever é essa hemorragia docoraçãodasvíscerasdaalma, vem assim: de repente. Acho até que é mal educado, talvez grosseiro. Mas eu gosto – todo mundo gosta. E nesse caso eu até sou como todo mundo. Ou talvez não, porque todo o mundo não é como todo mundo. Mas é uma grosseria gostosa, é um desaviso que enche o peito e faz ele saltar pra fora, porque não dá pra esconder. Todo o tempo foi assim. Só que tem gente que escreve diferente. Eu não sei se o meu jeito é diferente, mas é o meu jeito – e como é só meu então pode ser que seja diferente mesmo.
Mas assim é, é que já disseram por aí que todas as cartas de amor são ridículas, e que não seriam de amor se ridículas não fossem. E então eu não sei se isto que estou escrevendo é ridículo, porque não é uma carta. E não é. Eu não sei o que é, eu quase nunca sei, mas como já disseram por aí também, eu quero me aproximar do “é” da coisa, e por isto é que eu estou escrevendo agora: é porque isto é o “é” da coisa. E eu nem sei que coisa é esta, mas ela é. E eu gosto de que ela seja. E só seja. Assim, ser.
E é super paradoxal, porque a gente já é avisado de que é desavisado, e então eu acho que a gente já devia estar assim: preparado. Mas aí não teria graça, porque a graça do é dessa coisa é ser desavisada. E eu estou escrevendo agora pensando em Caio F. e em Ana C., porque eu acho que em 1970 e em 1980 essa coisa já era essa coisa assim do jeito que eles diziam que era: louca e incompreensível. Não, eles não falaram isso assim, com essas palavras, mas a Literatura (com L maiúsculo, porque a Literatura é um ser vivo) deles fala dessa coisa louca e incompreensível de um modo extremamente compreensível, e é por isso que eu acho que a gente ainda vive no tempo deles, que é o mesmo tempo de sempre, porque a alma coração vísceras sempre sentiram a mesma coisa, só que em 1970 e em 1980 eu acho que ela era melhor traduzida. Porque essa coisa é assim que nem a Literatura: é mais linda e mais real quando está perto da gente, quando está na gente. Lá dentro.
Eu sempre ando com guarda-chuva na bolsa, porque São Paulo é tão multiplamente díspare que até o tempo é assim. E, de repente, chove.
Mas hoje, que feliz ironia: deixei o guarda-chuva em casa.















A propósito: que coisa é essa mesmo?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

das Flores

Começou ela hoje.

Gostei do início assim_______________o lilás-roxo do jacarandá fica mais bonito. Mais verde.

Vinde a nós, prima Vera.

domingo, 13 de setembro de 2009

NEM SILVESTRES, NEM MOFADOS: MORANGOS VERMELHOS

Se eu pudesse, guardaria aquele aroma em uma pequena garrafa, para levá-la comigo sempre. Aquele cheiro puro, doce e selvagem. Aquele cheiro vermelho. Com nostalgia, com saudade, com desejo. Com desejo. Acho que quando sentisse desejo é que deixaria a tampa da garrafinha aberta por mais tempo. Penso que o aroma de morangos remete ao desejo. Especialmente o sexual. Não sei se isso me está arraigado pelo senso comum da mídia marqueteira, que trata de estampar aos montes imagens de morangos quando o dia dos namorados está próximo. Ou se o faço por conta própria. Talvez. Talvez as duas coisas. Ou talvez só por uma coisa, já que o desejo é algo inato ao ser humano e, inexplicavelmente, pode surgir em uma tarde chuvosa durante o trabalho. Ora, não há nada que se possa fazer em uma situação como essa, mas então eu teria o aroma engarrafado.
Nem silvestres, como Bergman, nem mofados, tal qual Caio, mas pura, obvia e simplesmente: morangos. Morangos aos quilos, soltos - e não presos, apertados em caixinhas para vender - vermelhos, brilhosos e sensuais, com aquela forma que lembra, vagamente, o corpo feminino.
Quero-te, quero-te, quero-te: vermelho.