quarta-feira, 16 de junho de 2010

AMOR,

sabe, nesses dias frios de outono, o céu de São Paulo tem se feito quente. É. Já são algumas noites seguidas que saio à sacada e dou de frente com a Lua escancarada pra mim. Converso com ela. Tem vezes que ajoelho, até. Sim, tal qual uma adoração mesmo. Não, mas não tenha ciúmes, ela é tão mais brilhante e mais distante! Não a agarro com a mão, como faço contigo e como disse o Waly pra Bethânia em Mel, lembra? Não. A Lua é mais. Ela é mulher, assim, que nem a gente. Olho pra ela, assim, tão meiacheiadeLua e fico pensando em como é bom poder estar aqui embaixo, só pra poder olhar pra cima. Doidice, não? Eu não acho. Acho excitante. Fico pensando em deitar contigo ali no asfalto do Elevado e ficar olhando pra Lua. Queria te versar assim em Bandeira e Caetano. Queria que tu lesse pra mim ali. Me lesse. Aí, eu queria te cantar também. Não... o chão é macio. Acho o Elevado de um lirismo incrível! Dura poesia concreta, sabe? Quase posso sentir a tua língua quente no meu ouvido falando Lemiski, Lenine e Cazuza. A sorte do nosso amor com sabor de fruta mordida.

***

       Sacanagem danada essa de o céu se fazer assim justo agora. Me sinto tão feliz quanto...quanto nada. Me sentir feliz pelo espetáculo que o céu da Paulicéia tem feito nestas semanas é o que basta. Sempre o quis assim: em noite quente e brilhante. Lembro do Sertão e do Pampa, roseana e ericamente enluarados. Então, o peito aperta. Só faço saudade. A Lua me enche. Suspiro, te canto, mas não te conheço.