Ontem, muito perto daqui, vi um colchão dentro de um grande cesto de lixo. Era um colchão de solteiro, cor de creme com rosas cor-de-rosa mesmo e alguns filetes azuis. Um colchão de casal fosse e então eu poderia imaginar milhões de histórias de amor desfeitas, que agora precisam ver indo embora para todo o sempre o visgo reminiscente das horas mais felizes da vida em comum. Mas não, era um colchão solitário.
Solitário assim, no sentido de, teoricamente, ter sido feito para o um. Porque esse tipo de leito é o melhor de todos para se fazer do dois o um. Certo é que muito espaço se faz mais confortável para os desnorteios do fervor urgente, mas o mínimo dele é mais do que suficiente – e gostoso. Se não há para onde rolar, e a possibilidade de cair é de 100%, o jeito então é deslizar-se por cima, por baixo, de lado, um para cima e outro para baixo e começariatudooutravez, seprecisofosse, meuamor. Assim a urgência se faz mais delirante e o desejo mais infinito. Escorrega-se com mais facilidade porque o atrito é molhado. Prende-se com mais facilidade porque o molhado gruda.
Talvez então para isso, para desgrudar da alma a lembrança, o colchão com rosas cor-de-rosa mesmo e alguns filetes azuis foi jogado ao lixo. Ou, então, era de alguma criança mijona.
Ou estava infestado de pulgas.
5 comentários:
Gosto da maneira como escreve.
Muito bom o texto.
Na verdade, fiquei pensando na possibilidade de um colchão de casal solitário.
Olha a teoria do colchão solitário ter mais consistência, pelo fato do "molhado que gruda", é interessantíssimo. Desenvolva um conto Meggie, demorou.
bjus
maravilhoso, sou de longe o seu mais antigo fã!
O colchão solitário que serve a dois. Isso é o melhor. É tanta paixão que não se precisa de espaço. Quando troca-se por um colchão de casal tudo muda, a distância surge e o depois de um tempo a paixã acaba. Que se queimem os colchões de casais.
Cristo, se tivesse lido isso aqui semana passada pensaria 3 vezes antes de mudar o meu...
só que como o de solteiro ainda não foi levado embora, continua me observando encostado na parede..
talvez invejando o porte do outro, o novo, talvez esnobando seus anos de história...
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